Dois perdidos
no horror elíptico
da sobremodernidade
Dois perdidos no horror elíptico da sobremodernidade baseia-se naquela que aparenta ser uma inevitabilidade da condição humana: a espera e a fé (ou a dúvida?). Assumidamente inspirada na primeira e mais famosa peça de Samuel Beckett (À espera de Godot, um dos textos mais representativos do Teatro do Absurdo), esta criação adquiriu a sua própria identidade através de uma outra dramaturgia. Aqui, quem espera não são vagabundos. São trabalhadores precários de um certo serviço de transferes que aguarda a chegada de um determinado cliente – há dias, meses, anos?... – no hall de um qualquer aeroporto. Dois perdidos... é um espectáculo tragicómico, entre a espera e a esperança, naquele não-lugar por onde passam todos os absurdos do mundo.
Num espaço branco e asséptico, reconhecível pela maioria, trabalhamos a presença antes da palavra, aquilo que é dito pelo corpo e por composições visuais mais explicitamente do que pelo texto.
Associando a ideia de não-lugar de Marc Augé à chamada globalização, e ao vazio de sentido a que nos expomos por raramente questionarmos a velocidade das nossas vidas, encontramos a base dramatúrgica para o processo criativo, interrompido – inesperada e coincidentemente! – por uma pandemia avassaladora provocada pelo novo Corona-vírus. Impõe-se o confinamento por tempo indeterminado. Esperamos voltar à normalidade.
Mas qual normalidade?
Estreado a 09/10/2020 no Cine-Teatro Louletano
Interpretação: Filipa Rodrigues, João Caiano, Pedro Paulino, Renato Brito, Tata Regala
Encenação: Carolina Santos
Assistência de encenação: Mariana Teiga
Dramaturgia e espaço cénico: Carolina Santos, com inspiração no universo godotiano, de Samuel Beckett
Música: excertos de “Picea”, “Fraxinus” (de Bartholomäus Traubeck), “Changing Time 1”, “Deconstructed Image 2” e “Processional” (de Tigran Hamasyan) Sonoplastia, construção cenográfica e grafismo: Marco Martins
Figurinos: Ana Karina
Desenho de luz: Valter Estevens
Voz-off: Carolina Santos
Fotografia: Daniel Pina e Carolina Santos (foto de Cartaz)
Direção de Produção e Comunicação: Patrícia Amaral
Apoios: Câmara Municipal de Loulé (Cine-teatro Louletano), Algarpalcos, Gostomatic, Loulecópia