Em Paris, meados de 2014. Vivo em 13 metros quadrados a 2000 km de “casa” e trago em mim todos os sonhos do mundo. Sou mais uma [mulher] no meio dos 910.000 portugueses que, nesta cidade, procuram o mesmo que eu. Algo melhor do que aquilo que tinham. Uma vida, um trabalho?
Num alfarrabista encontro o livro de Nicole Caligaris, que confesso não conhecer enquanto autora, mas que me atrai pelo título: Les Samothraces (inspirado na maravilhosa estátua encontrada na ilha Grega com o mesmo nome). Mergulho nas palavras e nos silêncios desta aventura sem partida nem destino conhecidos, escrita numa língua que ainda não é (era) minha - e que talvez nunca venha a ser realmente. Nesta ode ao movimento, o meu coração é tocado pela tragédia daqueles que continuam a andar sem ter para onde ir. Relaciono-me com as três mulheres que carregam a história – agora tão mediatizada – de milhões de anónimos e clandestinos que tentam refazer as suas vidas noutros países.
Em Paris, meados de 2014, faço a promessa de que um dia hei-de usar a prosa poética de Caligaris como base para um espectáculo ou performance. Em Loulé, 2022, parece-me, mais do que nunca, VITAL, cumprir o prometido. Aconteceram demasiadas coisas no Mundo (que, de certo modo, este épico, escrito em 2000, parecia antever) para que eu deixe passar mais tempo. Aconteceu a crise dos migrantes, aconteceu Mória, aconteceu uma pandemia global, o mundo fechou, sofreram ainda mais os mesmos de sempre. Continuou Gaza, continuou o Irão, continua o género a ser tabu. As alterações climáticas continuam inalteradas. Aconteceu o Afeganistão e as mulheres a ser tema de pena ou vergonha alheia, aconteceram os milhões por gastar na ajuda a refugiados e migrantes. Continua a desigualdade salarial e 50 milhões de mulheres em situações de extrema pobreza, em pleno século XXI. E agora (já com o projecto em pré-produção), a invasão da Ucrânia. Centenas de milhares de mulheres em êxodo com as suas crianças. A maior vaga de refugiados na Europa desde a 2ª Guerra Mundial. Como não ser uma Samotrácia?
De regresso ao meu ponto de partida (Portugal) acredito, mais do que nunca, que a Arte e a Cooperação Artística Internacional são fundamentais para falar do Presente e expor (mettre en lumière) alguns dos assuntos-chave para o nosso Futuro. Urge associar-me a quem quer dizer o mesmo que eu, porque – há verdades que permanecem inalteradas – se formos muitos (neste caso, muitas) mesmo em línguas diferentes, talvez consigamos fazer-nos ouvir melhor.
Carolina Santos
(Direcção artística e interpretação)
Canto de sobrevivência, manifesto de uma horda em movimento, SAMOTRÁCIAS é o grito de três mulheres que se agarram à sua ânsia de emigrar.
Sissi, a mais jovem, procura a fama no estrangeiro.
Sandra, mãe viúva, quer fugir a um novo casamento forçado e oferecer um futuro à sua filha.
Pepita, que passou a sua vida a servir os outros, procura um fim diferente para os seus dias.
São três mulheres que querem a mesma coisa: partir.
Esmagadas pela crença num outro futuro, vêem o seu propósito desvanecer-se numa viagem cruel.
O sonho reduzido ao instinto de sobrevivência.
Surge a dúvida, será que têm mesmo o direito de partir?
O movimento é o motor de um espectáculo trilingue (pt / fr / es) que tem por base o acto de migrar, a deslocação entre países nunca são nomeados, em que três atrizes dão vida à récita implacável de Nicole Caligaris, entrecruzando personagens e narração, num projecto que oscila entre a ficção e o registo documental, resultante de múltiplas entrevistas a mulheres migrantes, residentes no Algarve.
VER VÍDEO DOC AQUIVO SAMOTRÁCIAS
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
SAMOTRÁCIAS, a partir do texto Les Samothraces, de Nicole Caligaris
Cocriação e Interpretação Carolina Santos, Letícia Blanc e Ulima Ortiz
Direcção Artística Carolina Santos
Direcção Plástica Eduardo Jiménez Cavieres
Design Som Marco Martins
Fotografia e Vídeo João Catarino
Consultoria Artística Ricardo Correia e Alexandra Guarín
Execução Cenário e Figurinos Ana Karina Inês
Iluminação Mafalda Oliveira
Técnico Audiovisual Samuel Beckman / Ricardo Branco
Produção e Comunicação Ana Palmeiro
Redes Martim Santos
Ass. de Imprensa This is Ground Control
Coprodução Portugal — Colômbia — Chile I Mákina De Cena, Fondación Teatro Libre de Bogotá
Financiamento Câmara Municipal De Loulé, Iberescena - Fundo de ajudas para as artes cénicas Ibero-Americanas
Apoios e Parcerias Auditório Carlos Do Carmo — Município De Lagoa, IPDJ Faro, Fundación Santiago Off, First Round — International Creative Platform, ACM – Alto Comissariado para as Migrações, CNAIM Faro, Fundação António Aleixo, Casulo — Laboratório De Inovação Social De Loulé, Vamus, Loulecópia
Duração 70 min (aprox)
Class. Etária m/ 14
Datas passadas:
21 e 22 Outubro 2022 | Cineteatro Louletano | Loulé
24 e 25 Outubro 2022 | Auditório Carlos do Carmo | Lagoa
28 e 29 Outubro 2022 | Auditório IPDJ | Faro
12 e 13 Novembro 2022 | Festival Solos Ibéricos - Teatro Ibérico | Lisboa
8 e 9 de Abril 2023 | Résidence André de Gouveia - CIUP | Paris, FRANÇA
19 e 20 de Maio de 2023 | Teatromosca - AMAS | SIntra
17 de Junho de 2023 | Cidade PREocupada - Casa Branca | Montemor-o-Novo
27 de Junho de 2023 | Festival Internacional de Teatro do Alentejo
15 de Julho de 2023 | Oficina Municipal de Teatro | Coimbra
5 de Agosto de 2023 | Festival Túnel 8 - MUDAS | Calheta, Madeira
23 e 24 de Janeiro de 2024 | Festival Santiago Off | Santiago do Chile, CHILE
26 de Janeiro de 2024 | Teatro Municipal de Chillán | Chillán, CHILE
Próximas datas:
26 de Junho de 2024 | Teatro das Figuras | Faro
7, 8 e 9 de Novembro 2024 | emCENA | Santo André, Santiago do Cacém e Sines
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